Nos transportes públicos e roulottes após a derrota do Benfica na última terça-feira (11), o discurso do torcedor mais pessimista era o mesmo: acabou o gás do time de Roger Schmidt. O frustrante revés por 2 x 0 frente aos italianos da Inter de Milão no jogo de ida das quartas de final da Liga dos Campeões foi o segundo em pleno Estádio da Luz em menos de cinco dias. Na sexta-feira (7), as águias já tinham sido derrotadas pelo Porto por 2 x 1 pelo campeonato e os dois resultados negativos ligaram o sinal de alerta na Luz.

A principal crítica por parte da torcida benfiquista é a falta de variação tática ou mesmo de experimentar outros jogadores no decorrer das partidas. É certo que Roger Schmidt não tem grandes soluções no banco de reservas, mas também é verdade que, por vezes, o alemão demore demais para fazer alterações.

Nas duas derrotas recentes, o treinador optou pela já clássica alteração quando sua equipe precisa correr atrás de um resultado, sacando Florentino e dando lugar a David Neres, colocando Aursnes no papel de primeiro volante. No clássico contra o Porto, a segunda alteração veio apenas aos 41 minutos do segundo tempo, quando lançou o croata Musa dentro de campo, em um momento que o ataque benfiquista se concentrava apenas em cruzamentos para a grande área – com a maioria das bolas sendo afastadas por Pepe.

Contra a Inter, a demora a mexer foi ainda mais criticada pela torcida presente no estádio. Já nos acréscimos, Gonçalo Guedes – que voltava de lesão – e o mesmo Musa foram para a beira do campo. Em um escanteio para o Benfica, no entanto, Schmidt pediu para o árbitro esperar. A bola acabou na mão de Onana e demorou a sair de campo outra vez, fazendo com que Guedes e Musa ficassem em uma situação que chegou a ser constrangedora nos três minutos que ficaram de pé a espera de autorização para entrarem no campo. A um minuto do fim, o treinador mandou os dois voltarem ao banco, gerando revolta dos benfiquistas.

Não só as demoras nas trocas preocupam o torcedor, mas sim o esquema que já deu sinais de esgotamento, especialmente na armação do time. A atuação abaixo da média de jogadores como João Mário, Aursnes e Chiquinho fizeram o meio de campo do Benfica ser praticamente inexistente nas últimas duas partidas. Uribe e Otávio tomaram conta da faixa central do campo no clássico e na noite de ontem, Brozovic e Barella deram masterclass de área a área.

“Já chegamos longe demais, agora é focar no campeonato para também não perdemos este”, desabafou um torcedor logo após a derrota frente aos italianos. O motivo de preocupação é legítimo, mas Roger Schmidt e seus comandados já deram motivos para fazer os encarnados acreditarem. O nível de concentração tem que voltar ao que já foi em outros momentos da temporada para conseguir manter a vantagem larga na liderança do campeonato.

Já na Liga do Campeões, os jogadores terão que fazer muito mais se ainda quiserem sonhar com a semifinal europeia. Apenas o empenho de outrora será suficiente para reverter o placar? Alterações na formação tática? Experimentar João Neves, Guedes ou Neres no time titular? Roger Schmidt precisará de alguns coelhos da cartola para realizar, tal como Vittorio de Sica em 1953, um Milagre de Milão.