Personaltech, uma empresa portuguesa de tecnologia especializada no desenvolvimento de soluções web sob medida.
Tito Guarniere
Os eventos do Leste Europeu são de tal maneira complexos que provocam efeitos insuspeitados. Por exemplo, as esquerdas, o lulopetismo e o bolsonarismo basicamente, e cada qual por suas razões, apoiam Putin e a invasão russa.
O PT, por ideologia e tradição, liga o piloto automático contra tudo o que, de algum modo, possa ser ou parecer do interesse dos Estados Unidos. No contraponto habitual, na medida em que Rússia é uma das poucas potências que podem fazer frente aos EUA, ao Ocidente, a preferência dos petistas em geral se faz de pronto e sem reservas.
Já Bolsonaro tende a ser pró-americano, mas só quando Donald Trump está no poder. Aqui, a régua está situada em patamar mais baixo, que se orienta pela simpatia pessoal do governante da hora – sequer de uma concepção ideológica, de uma visão de mundo.
O que temos, então, é que blocos políticos supostamente antagônicos, com todas as suas diferenças, mesmo em questão tão relevante, não têm como disfarçar a opinião compartilhada. E no caso, ambos ficam com a potência maior que ataca a mais fraca – o comportamento covarde, a regra inversa de toda a diplomacia, de todo esforço genuíno de paz.
Se Putin vencer o conflito e subjugar por completo a Ucrânia, Lula e Bolsonaro estarão no Kremlin brindando com ele.
Outras teorias dominantes sofreram abalos na Ucrânia. As guerras – diz a totalidade da esquerda – se constituem em toda ordem no uso do cachimbo na boca torta do capitalismo, destinado a expandir negócios e fronteiras, explorar de forma mais eficaz os trabalhadores.
Não são. Não que nunca tenham sido. O que, mesmo, o capitalismo tem a ver com a invasão, a destruição, o bombardeio da Ucrânia? Com uma ou outra exceção, está mais do que esclarecido de que, no caso, as nações capitalistas condenam a invasão, através de palavras e de gestos concretos – querem o cessar-fogo, querem a paz.
Os EUA, ainda em 2021, abandonaram espontaneamente o Afeganistão, depois de 20 anos, um gesto concreto e dramático de renúncia à intenção beligerante e ao ímpeto imperialista.
Mas o que mais impressiona agora é a retirada em massa de grandes empresas multinacionais do varejo, da viação área, das comunicações, da produção de petróleo do Ocidente – decisões na órbita da política, que lhes causarão pesados prejuízos, e em nome de certos valores morais, não econômicos, como o direito à soberania e autodeterminação dos povos.
Não são Estados, são corporações privadas – uma novidade e tanto. Talvez esse venha a ser mecanismo mais rápido de pôr fim ao conflito. Até quando a Rússia aguentará o boicote, a queda brutal do valor do rublo, a quebra de suas empresas, os espaços aéreos fechados, a proibição do uso de cartões de crédito, a terrível contração dos negócios russos no mundo?
O Leste Europeu, a Europa, o mundo estavam em relativa paz. Os russos não estavam sob nenhuma ameaça, militar ou não. Agora, esmagadora maioria da população russa, que nada tem a ver com as psicoses de Putin, entretanto sofrerá na carne as suas mais funestas consequências.
Twitter: @TitoGuarnieree