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TITO GUARNIERE
Saiu o STF e o TSE (com Bolsonaro) e entrou o Banco Central(com Lula). Parece que se consolida uma tendência, se instala um costume: o presidente precisa ter um vilão para combater, alguém para responsabilizar pelo que der errado, pelo fracasso eventual.
Dá para sentir o cheiro da desculpa esfarrapada, de um lado, e pela má leitura do que sejam as instituições, feita pelos mais altos mandatários da República. Bolsonaro jamais se conformou com o poder e as prerrogativas do TSE e do STF, para ficar apenas no mais corriqueiro. E Lula, mais do que reagir com irritação, acusa o Banco Central, presidido por Roberto Campos Neto, de provocar uma recessão no Brasil – deliberadamente.
Na cabeça, no modo de pensar de Bolsonaro e de Lula, não se trata de acumular poder, mas de ir além dos limites impostos pela Constituição e pelas leis. Ora, quando se fala de instituições, está se falando exatamente de anteparos ao poder sem freios, à vontade e ao gosto pessoal dos governantes da hora.
Ambos , Lula e Bolsonaro, estão imbuídos do sentimento de que lhes é permitido remover os obstáculos que se apresentem para o cumprimento dos seus compromissos de campanha. Eles têm razão, mas não do jeito que eles acham. Bolsonaro poderia mobilizar a sua base política para reinstalar o voto impresso, através do Congresso Nacional – bem que ele tentou e foi mal sucedido. Lula pode entender que os juros estão altos – e estão mesmo – mas não pode querer derrubá-los no grito.
No caso de Lula, deve existir um amplo espaço de diálogo entre o Ministério Fazenda e o Banco Central, respeitando a independência do BC, mas alinhando ações tendentes a provocar uma queda da taxa de juros. Há que ter uma certa paciência. São decisões delicadas, mas agir por impulso e voluntarismo é o caminho da perdição.
No ínterim, com Lula botando a boca no trombone, acusando o Banco Central e seu presidente de trabalharem contra as melhores intenções do governo, como tantos comentaristas já afirmaram, só aumenta o ruído e gera o efeito inverso: mais incerteza jurídica, insegurança na economia e mau humor dos mercados, resultando em manter as taxas de juros nas alturas e ainda aumentá-las.
É um enorme contrassenso do governo Lula manifestar a cada passo a desconfiança nos mercados, em denunciar supostas intenções dos agentes econômicos e das elites – sempre elas. É uma enorme perda de tempo esperar que – no conflito – o mercado abra mão de sua natureza e função, de suas idiossincrasias e conceituações brutas. Não será com altercações que Lula vai subjugar o mercado, fazê-lo mudar de rumo, contrariar a sua lógica inexorável.
Ah, mas Roberto Campos Neto andou “arrastando asas” para Bolsonaro. É verdade. Não foi inteligente da parte dele. Contaminou o seu próprio espaço de liberdade e autonomia. Mas a vida segue, o mandato de Campos vai até 2024 – tempo de sobra para retomar uma postura altiva e respeitosa de parte a parte, cada qual assumindo o seu papel, tendo em conta as aspirações mais justas e os interesses mais saudáveis da coletividade nacional.
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Twitter : @TitoGuarnieree