Personaltech, uma empresa portuguesa de tecnologia especializada no desenvolvimento de soluções web sob medida.
Quem me conhece de perto, sabe que sou de uma geração musical privilegiada. Cresci ouvindo as grandes bandas de rock pop nacionais e internacionais, muitas delas com origem inglesa e que até hoje fazem sucesso e são reverenciadas em todo o mundo. Como não amar, Pink Floyd, Beatles, Rolling Stones, The Who, Queen, Black Sabbath e tantas outras. Cada um com estilos e sonoridades diferentes.
Uma tradição britânica que perdura até os dias atuais. A queridinha do momento é a Coldplay. Liderada pelo simpático e talentoso Chris Martin, a banda é conhecida por suas turnês gigantescas, por fazerem baladas incríveis, por levar muita tecnologia e arrastar multidões por onde passam e agora por estarem no centro de uma grande polêmica, que se não é ilegal, é no mínimo imoral.
A questão é que, após uma passagem vitoriosa pelo Brasil com a turnê “Music of the spheres world”, os caras estão vindo para Portugal. No mês de Maio, desembarcam em Coimbra, cidade localizada à beira-rio no centro lusitano e antiga capital do país. É famosa também por suas universidades e por ter vereadores que aprovaram recentemente um verdadeiro escândalo com o dinheiro público.
PAGAR PARA SER SEDE
Os “representantes” do povo, em sua maioria, tiveram a cara de pau de destinar 440 mil euros de verba pública a empresa “Everything is New”, produtora com sede em Lisboa, responsável pelas quatro apresentações da banda, como forma de garantir que a cidade fosse escolhida para ser a sede das apresentações. Isso porque, segundo informações da imprensa local, a tal empresa que pertence ao empresário Álvaro Covões, fez uma espécie de leilão entre as cidades para saber quem dava mais pelos shows.
E não só isso, o “acordo” obriga também que a autarquia fique responsável pela substituição do gramado do estádio após os concertos, assegurar a limpeza antes, durante e após os espetáculos e isenta a tal empresa de qualquer taxa, tendo direito de utilizar o estádio entre 01 e 25 de maio a “la vontê”, bancar ainda transporte, hotel e alimentação para toda a trupe.
Pensa que terminou? A autoridade municipal ainda abriu mão da cobrança de taxas e impostos.
Segundo a bancada de oposição na câmara, o cálculo da vergonha chega a UM MILHÃO DE EUROS em benesses para receber as incríveis apresentações.
Vale ainda ressaltar que os ingressos vendidos para os quatro dias estão esgotados há meses. Segundo site Fnac.pt, o valor do ticket médio, varia de 65 a 500 euros. Ou seja, usar como desculpa de que a presença da banda na cidade aquece a economia e gera emprego e renda é no mínimo subestimar a inteligência de todos nós.
O pior é saber que essa não foi a primeira vez que os tais vereadores aprovaram o derrame de dinheiro. Em 2021, Andrea Bocelli também foi “beneficiado” com acordo semelhante.
FALTA CRITÉRIO
As mesmas autoridades que aprovaram a “festança” não tiveram o mesmo empenho em destinar uma única medida social para mitigar os efeitos da resseção que assola milhares de famílias na região e são os mesmos que diminuíram o orçamento de eventos culturais tradicionais na cidade.
É um verdadeiro tapa na cara de quem paga seus impostos em dia e hoje percebe o salário recebido escorrer por entre os dedos, sem oferecer a mínima condição de sobrevivência.
Qual são as prioridades mesmo? Bando de hipócritas!
QUAL QUER SEMELHANÇA, NÃO É MERA COINCIDÊNCIA
Do outro lado do oceano atlântico, essa história parece se repetir. Com a volta de Lula ao poder a famosa LEI ROUANET, moralizada na gestão Bolsonaro, volta a ganhar holofotes e usa como pano de fundo a justificativa criada pelo governo do PT para “incentivar a cultura”.
Na teoria, ela deveria apoiar projetos culturais em todo o país, mas na prática, ela acaba privilegiando apenas os grandes artistas, enquanto os pequenos e médios produtores culturais ficam abandonados à própria sorte. A exemplo da atriz Cláudia Raia que já tinha captado R$ 5 milhões de reais no primeiro mês do governo.
CULTURA ELITIZADA
O resultado disso é uma cultura elitizada, que beneficia apenas uma pequena parcela da população, enquanto o resto é deixado de lado. É triste pensar que, em pleno século XXI, ainda estamos lutando por acesso igualitário à cultura e à arte.
PÃO E CIRCO
A questão da Lei Rouanet no Brasil também pode ser analisada através da analogia com a iniciativa de trazer o Coldplay para Coimbra. Ambas envolvem o uso de recursos públicos ou privados para a promoção de eventos culturais, que nem sempre estão acessíveis à maioria da população e podem ser considerados como uma forma de praticar a velha política do pão e circo que consiste em oferecer ao povo algo que os distraia ou os mantenha ocupados, enquanto os líderes políticos promovem ações ou decisões que nem sempre são benéficas para a sociedade.
A expressão tem origem na Roma antiga, onde os governantes ofereciam comida e espetáculos aos cidadãos para distraí-los dos problemas sociais e políticos.
CULTURA PARA TODOS
Diante desses exemplos que priorizam o entretenimento em detrimento de outras necessidades da população, é importante refletir sobre a forma como a cultura é promovida e financiada em nossas sociedades. Seja em PORTUGAL ou no BRASIL, a cultura é um elemento fundamental para a formação da identidade de um povo e para o desenvolvimento social, econômico e educacional das duas nações.
No entanto, é preciso que a promoção da cultura seja feita de forma responsável e inclusiva, valorizando a diversidade cultural e atendendo às necessidades e demandas da população em geral. É preciso também que haja transparência e critérios claros na distribuição de recursos públicos destinados à cultura, de forma a garantir que esses recursos sejam usados de forma efetiva e justa.
Promover a cultura de forma responsável e inclusiva é, portanto, uma tarefa fundamental para garantir o desenvolvimento e o bem-estar de uma sociedade.
É preciso que haja um esforço conjunto entre os governantes, a iniciativa privada e a sociedade civil para garantir que a cultura seja valorizada e promovida de forma adequada, atendendo aos reais interesses e necessidades da população como um todo.
A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR
Será que a banda Coldplay tem conhecimento de tal incentivo público? Custa acreditar que os músicos, tão envolvidos em causas sociais, aceitem receber dinheiro público, na maior tranquilidade, sem pesar na consciência.
Será?