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Durante debate sobre o Estado da Nação, ocorrido ontem (22) em reunião plenária, o primeiro-ministro, Antônio Costa, questionou a capacidade de “adesão à realidade” do deputado André Ventura. A observação veio minutos após Ventura dizer que “o Sr. primeiro-ministro foge como a um para-raios aos ataques que tem que ser alvo neste governo”. – A declaração foi motivo de risos.
Ventura, que fez exaltadas afirmações e duros questionamentos durante intervenção plenária, disse que Costa deveria “pedir desculpa aos portugueses”. O deputado apresentou uma série de estatísticas e afirmações alarmantes sobre a economia, segurança e saúde, que sequer foram respondidas, refutadas ou justificadas pelo primeiro-ministro.
Tempestade de afirmações
O deputado começou dizendo que Costa deveria “pedir desculpas por 7,2% de desemprego. Pedir desculpas pelos 60% de empresas que faliram ao longo dos últimos 3 meses. Pedir desculpas por dois terços das empresas não conseguiram pagar despesas”. E pedir desculpas “por um quinto” dessas empresas que “não conseguiu pagar salários”.
Citando um relatório, mas sem mencionar a fonte, afirmou ainda o deputado sobre às empresas: “60% não conseguiram os apoios que o seu ministro da Economia prometeu, por excesso de burocracia.” – O ministro Pedro Vieira estava ao lado de Antônio Costa na sessão plenária.
Sobre a segurança, em defesa da classe policial, Ventura se dirige ao ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, e o questiona sobre o que o deputado considera ser um baixo valor de subsídio de risco aos policiais: “Mas o que deu? Oitenta euros em 14 meses. Oitenta euros depois de uma luta de 20 anos”. Valor esse que “o primeiro-ministro teve coragem de hoje vir elogiar”, concluiu.
Reguengos
Ainda sobre segurança, citando o caso de Reguengo de Monsaraz, Ventura disse: “mais uma vez tivemos aquilo que o Sr. primeiro-ministro insiste em olhar para o lado, a comunidade cigana a viver acima e por fora do estado de direito, e a fazer aquilo que em todas as zonas do país continua como um sentimento de impunidade a que o país insiste em não ver”.
Sobre o caso de Reguengo, um macabro show de agressões físicas e de violência que encerrou em tentativa de homicídio no dia 16 desse mês, o BRNEWS fez uma reportagem e apurou com uma fonte que policiais podem não ter agido por medo de retaliações políticas ou Institucionais, o que de certa forma vai ao encontro do que cobrou Ventura ao primeiro-ministro.
Para-raios
Já perto do fim das argumentações, Ventura comete uma gafe ao dizer “enquanto atacam o seu ministro da Administração Interna, enquanto atacam a sua ministra da Justiça, o Sr. primeiro-ministro foge, como a um para-raios, aos ataques que tem que ser alvo neste governo”.
A frase, uma construção de raciocínio que o deputado tentava fazer ao sugerir que os ministros de Costa eram utilizados como “para-raios” para supostamente absorver a carga elétrica de um mal Governo, acabou saindo pela culatra e foi motivo de risos no plenário.
Ventura, defendendo-se dos risos e da gafe, advertiu: “eu não sei se os portugueses lá fora estão a rir tanto. Mas era bom que vejam o seu primeiro-ministro a rir num debate de Estado da Nação quando o país se encontra de joelhos perante uma Europa que continua, ainda por cima, a vergar mais”.
Próximo ao fim do discurso, Ventura fez ainda uma crítica geral ao Governo: “Passou de ser o melhor para o pior. O segundo melhor para o terceiro pior. O melhor da vacina para o pior da vacina. O pior das restrições como o maior atrapalhado em todas as restrições.”
“Peça desculpa aos portugueses! É isso que aconselho a fazer neste Estado da Nação”, concluiu Ventura.
Com a palavra o primeiro-ministro, Antônio Costa, ele agradeceu ao presidente da sessão plenária, ao deputado e, após tecer alguns comentários sobre o antigo partido de Ventura, tripudiou: “se há aqui alguém que tem que pedir desculpas é vossa excelência, pelo absoluto desconhecimento do que diz. Nós só compreendemos bem esse desconhecimento no momento em que imaginou um para-raios a fugir. Eu nunca vi um para-raios a fugir. Mas como o senhor já viu, podemos ver bem qual é a sua adesão à realidade”.
Prosseguiu Costa: “em matéria de segurança só queria dizer 2 ou 3 coisas. Primeira: em 2015 Portugal era classificado como o 11º país mais seguro do mundo. Hoje, felizmente Portugal é considerado o 4º país mais seguro do mundo”.
Segunda, destacou o primeiro-ministro: “Nos últimos 3 anos. O relatório anual de segurança interna do ano passado é o melhor desde 1989; e a série dos últimos 5 a melhor de sempre”, afirmou Costa.
E concluindo, com uma salva de palmas de seus apoiantes, falou o primeiro-ministro em relação ao terceiro dado: “nos últimos 3 anos a redução da área ardida e de foco é a maior das últimas décadas.”
Fuga do debate
Costa apresentou números que, apesar de louváveis, não responderam ou refutaram os questionamentos pontuais feitos por Ventura. As duras afirmações do deputado, que proferidas com grande estrondo, quase que se assemelhando a uma tempestade de raios, não conseguiram atingir o primeiro-ministro que, utilizando-se da retórica, fugiu nitidamente do franco debate.